"Há nove anos tomo café da manhã na mesma padaria em Porto Alegre. Nesta padaria há uma menina, neta do proprietário, que circula por ali, mas de quem eu nunca me aproximara. Ela é cega. Ou eu o era? Talvez eu fosse mais uma dessas pessoas cheias de preconceito, cheia de poréns. Minha incapacidade de descobrir o caminho de acesso a ela levou-me a escrever este livro, O emaranhado da maçaroca, onde narro a história de um menino que tem fios embolados coçando dentro dele, e seu encontro com um menino cego que ainda não conseguiu ver as cores do mundo. Antes mesmo do livro ser lançado fui convidado a ser o embaixador da Confraria das Letras em Braille. Foi assim que eu descobri um caminho possível para chegar ao coração dessa menina e me tornar seu amigo. Numa manhã, ao chegar para tomar meu café da manhã, levei comigo O emaranhado da maçaroca em braille e perguntei-lhe se gostava de ler. Pronto, estava firmado o vínculo, o laço. Ela leu o livro e ainda hoje me pede livros em braille para poder entrar nesses mundos tão bacanas que, nós, que escrevemos e ilustramos para crianças, pretendemos. Agora estou em Bento Gonçalves, saindo do Espaço Sensorial onde contei essa história para alunos da 6a. série. Mas eles tiveram uma surpresa. Vendei seus olhos para que ouvissem a história sem usar a visão dos olhos, mas exercitassem usar a visão do coração e toda a sua imaginação."